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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto:  https://www.ameimais.org/antonioailton

ANTONIO AÍLTON

( BRASIL – MARANHÃO ) 

 

 

 

ANTONIO AÍLTON (Bacabal-MA, 1968) é poeta, professor, pesquisador da poesia brasileira contemporânea. Doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco.

Recebeu prêmios em livros de poesia e ensaio, tais como Prêmio Literário e Cultural Cidade de São Luís (poesia e ensaio) e o Prêmio cidade do Recife (poesia).

Livros publicados: Cerzir - livro dos 50 (Poesia, Editora Penalux, 2019); Compulsão agridoce (Poesia, Paco Editorial, 2015); Os dias perambulados & outros tortos girassóis (Fundação de Cultura do Recife, 2008); As Habitações do Minotauro (Fundação Cultural de São Luís, 2001) e Humanologia do eterno empenho (ensaio, com o qual recebeu o Prêmio Cidade de São Luís, 2003).

Sua tese MARTELO E FLOR: Horizontes da forma e da experiência na poesia brasileira contemporânea, tese foi publicada, com mesmo título, pela Editora da Universidade Federal do Maranhão – EDUFMA, em 2018.

É membro da Academia Ludovicense de Letras – ALL [Academia de Letras da cidade de São Luís – Maranhão], cadeira 22, patrono Maranhão Sobrinho.

Site: www.antonioailton.wordpress.com

Biografia: https://www.ameimais.org/antonioailton 

 

ATO – REVISTA DE LITERATURA.  NO. 7 Belo Horizonte: Gráfica e Editora O Lutador,  janeiro de 2009.  Editores: Camilo Lara, Rogério Barbosa da Silva e Wagner Moreira.  21,5 X  52 cm.  52 p.
Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

Fraternidade
A José Alcides Pinto

o dia amanheceu lindo
as crianças pediram para mijar
os homens também levantaram e mijaram
e mesmo as mulheres mais recatadas
tiveram de abrir-se para o tempo
era um dia lindo

no campo, as vacas arreganharam suas brechas
e mijaram torrencialmente
(mija-se mais torrencialmente no campo)
Deus havia respingado durante a noite
e nas flores houve pétalas orvalhadas
para quem as conseguisse ver
cururus encheram os lagos
e amanheceram mais murchos, aliviados porém
de todo o seu inchaço metafísico

os pássaros olhavam de longe
eles não fazem diferença entre feze e urina
mas têm o privilégio de fazer onde quiserem

os netos de Freud riram onde cabia rir
um riso psicossomático
os becos ficaram mais fétidos e limosos
mas nem por isso menos felizes
por receberem séculos de penico e descarrego

todos foram justificados para suas oficinas
em algum lugar. Marte sumiu, mineral
com insondáveis motivos
(AILTON, 2000, p. 71-72)

 

 

        Aqui, mas
onde, como

1

Na acumulação de folhas
tufando o caminho torto
entre as varas de assa-peixe
para o estrume desse morro
o vazo de muitas tardes
no espanto só, o outono

Eis aqui que eles moravam
quando voltam salpicados
rumando a fotografias
de brusco instante não mais
se em chumbo lumes taperam-se
em que estar me socorro?

Da casa em que todos secam
vejo um ou dois chinelos
que explodem feito imagens
tais me pilhassem por céu
no vago dessa carcaça
pego sons de estranha dor

Há muitos cacos de xícaras
por onde passais já idos
tombados como um monturo
paridos de livro ou ceia:
meus mortos de alguma aldeia
 

        
2

Meus mortos de alguma aldeia
com o tempo vão mudando
postos que tisna e ferrugem
no estanhar roto das latas
são becos então, e já
destroços, por não lugar

Já uma tarde sumindo
por paralela à esquina
e coisas não tão brilhantes
quanto essas pontes, ó sol
tralhas e trevas que em vida
são por Mnemósine urdidas

Afinal de peça em peça
de rosto em rosto vão todos
sendo aos poucos (a)fundadas
como o é também por decepa
o andar lobotomizado
museu de tudo e galeria
de algum inflar, filosofia

Manhãs  azuis de ficção
e minério  de utensílios
que sou eu só, vou ao mar
brincar de ser na areia
meus mortos de alguma aldeia

(Id. Ibid., p. 69-70)


Saliva

estou em pernas demais
serão 8 em muitas ruas

“por favor traga a cabeça
quando volte do trabalho”

levanto parcos silêncios
ou: o cós de minha calça            

(certas aldeias antigas
nunca têm u da noite)

chulés também são memórias
quando lembram no abafado

ácaros nunca se acalmam
botam rosas nos meus pés

ainda há cama e trabalho
para onde irei logo mais

puxo a bagana do bolso
pra ser feliz na miséria

estrelas explodem gordas: ploft
vejo aftas, e céus

(Id. Ibid. p. 22)

(AILTON, Antonio.  Os dias perambulados & outos tOrtos
girassóis.
Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2008)

 

*

VEJA e LEIA outros poetas do MARANHÃO em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/maranhao.html

 

Página publicada em março de 2024


 

 

 
 
 
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